História

A Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém foi fundada no dia treze do mês de Novembro do ano de mil novecentos e trinta e um e legalizada por alvará do dia dois de Maio do ano de mil novecentos e trinta e dois.
Teve os primeiros estatutos aprovados em Assembleia – Geral reunida em congresso, nos dias vinte e nove e trinta de Junho do ano de mil novecentos e oitenta e cinco, os quais foram publicados no “Diário da República” n.º 111, 3.ª Série, de 15 de Maio de 1986.

Mas vamos recuar um pouco na História…

“1930. Um incêndio numa moradia no Cacém, a qual ardeu por completo devido à inexistência de meios de combate (acorreram bombeiros dos arredores mas já nada puderam evitar), motivou, por parte de alguns locais, a ideia de fundar uma corporação destinada a servir as populações dos lugares de Agualva e Cacém, organizando-se para o efeito em comissão.

Esclareça-se que, ao tempo, no domínio da prestação do socorro, Agualva encontrava-se confiada superiormente aos Bombeiros Voluntários de Belas, enquanto todo o Cacém (Cacém de Baixo e Cacém de Cima) pertencia à área de intervenção dos Bombeiros Voluntários de Queluz. Ambas as localidades, Belas e Queluz, ficavam relativamente próximas dos lugares em questão. Todavia, limitações ao nível das vias de comunicação e dos próprios veículos pronto-socorro, que não atingiam grande velocidade, faziam com que a realidade se apresentasse pouco favorável perante a necessidade de auxílio, sobretudo, num quadro de urgência.
Expostas as vicissitudes e deparada com a pouca receptividade das entidades camarárias em relação à necessidade de ali existir um corpo de bombeiros, a referida comissão decidiu desencadear várias acções tendentes a obter o apoio popular e, desse modo, reforçar o sentido do seu propósito humanitário.

Localmente, Ribeiro de Carvalho era visto como uma figura prestigiada e influente pela sua condição social. Anteriormente, nos anos 20, antes do golpe militar de 28 de Maio de 1926, enquanto político, havia exercido as funções de deputado no Congresso da República e de presidente do Senado Municipal de Sintra, eleito pelas listas da “Esquerda Democrática”.

Embora o regime vigente fosse no momento contrário aos ideais em que acreditava e a sua influência política se encontrasse reduzida, foi sensibilizado para cooperar com a Comissão Organizadora da Associação dos Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém (ABVAC), vindo a apoiar a mesma e disponibilizando as colunas do jornal República para divulgação da iniciativa do grupo de cidadãos e dos benefícios que daí poderiam advir.

Sem deixarmos de considerar o espírito de solidariedade do distinto republicano, acreditamos que a sua adesão verificou-se ainda por influência de duas pessoas, por quem, decerto, nutria especial simpatia, transversal ao campo político:

Carlos Charbel Girardin* – presidente da comissão, bombeiro dedicado, considerado pelos seus pares em virtude de competente experiência. Veio a ser o primeiro comandante do Corpo de Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém (BVAC), destacando-se como verdadeira espinha dorsal do mesmo. Sabe-se da sua oposição à ditadura, ao ponto de ser acusado e detido por acções subversivas, nomeadamente durante o Estado Novo, o que lhe valeu a demissão de funcionário da Imprensa Nacional;

Raul Pereira de Almeida – farmacêutico estabelecido em Agualva, assumido republicano, vice-presidente da mesma comissão, mais tarde vice-presidente da Direcção da ABVAC, chefe dos serviços de saúde (Posto de Socorros Cruz-Roxa) e, por inerência desta última função, 2.º comandante equiparado dos BVAC.

Coroando de êxito o empreendedorismo colectivo, dar-se-ia por fundada, em 13 de Novembro de 1931, a Associação dos Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém, apenas legalmente constituída, através de alvará, no dia 2 de Maio do ano seguinte.

A 3 de Janeiro de 1932, Ribeiro de Carvalho era admitido como sócio da recém-fundada associação. Algum tempo depois, naquela condição, seria eleito presidente da Mesa da Assembleia Geral.”

In “Fogo & História”