Secção Desportiva

logo_sec_desportiva

O início da Secção Desportiva
 
Finais da década de 60. Um grupo de bombeiros junta-se para organizarem umas pequenas festas entre si. Começam por uns pequenos bailes nas passagens de ano e carnavais, num reduzido espaço no primitivo bar,onde hoje funciona a Secretaria do Comando. Era o início da Comissão de Festas.
A sua missão era a angariação de fundos para a Associação, através de bailes aos fins-de-semana e dias especiais, da exploração do primitivo bar, bem como da venda na quermesse e de sardinhas na Feira de Maio. A festa de Natal era também da sua responsabilidade. Naquela época o relacionamento entre os bombeiros de Agualva-Cacém e São Pedro de Sintra era muito forte e nada melhor para um convívio do que as diversas partidas de futebol organizadas pela Comissão de Festas, seguidas de almoçarada.
O problema era mesmo a falta de equipamentos : os clubes da terra, Atlético do Cacém e o Ginásio Clube 1º de Maio de Agualva, para além de fazerem o favor de emprestarem os seus campos, ainda tinham também de emprestar equipamentos ! Então, um grupo de bombeiros quotiza-se entre si e compram o seu primeiro equipamento de futebol. Sempre que jogavam, representavam a Associação por intermédio da Comissão de Festas.

Os anos foram passando até que, em 1975, três elementos dos bombeiros, o Gabriel Valentim, o Luís Rosae o Machado, decidem criar a Secção Desportiva, tendo como objectivo a promoção de condições que favorecessem a prática desportiva, neste caso o futebol, e a dinamização da confraternização inter-bombeiros.Alargam-se os horizontes e, ainda nesse mesmo ano, Agualva-Cacém que sómente tinha confraternizado com as corporações vizinhas, desloca-se para terras além Tejo e confronta-se (desportivamente) com os Bombeiros de Sul e Sueste (Barreiro), tendo estes posteriormente retribuído a visita.
Na expectativa de melhorar os equipamentos, pedem-se algumas ajudas a clubes da primeira divisão, os chamados “grandes”, mas a resposta era sempre negativa, tinham equipas em escalões inferiores e era para lá que revertiam os equipamentos em desuso. Face à inexistência de verbas, já que as dificuldades financeiras eram grandes, a Secção Desportiva recorre então à Comissão de Festas no sentido de ser realizado um baile para angariação de fundos. Infelizmente o resultado não foi o esperado. Com uma bilheteira fraca, pairava o medo de que a receita nem sequer desse para pagar ao conjunto. Contudo, apurado o resultado final, descontadas as despesas, o lucro deu apenas para a compra de toalhas e pouco mais !
O tempo vai passando. Em princípios dos anos 80, a Secção Desportiva enceta uma nova vida, mais concretamente em 1982. Com nove novos elementos directivos a quem é dado o nome de Comissão Administrativa da Secção Desportiva, é aprovado o Regulamento Interno da Secção Desportiva. O Comando e a Direcção da Associação, indicaram o nome dos seus representantes. É nesta altura que é criado o jornal “Ti-Nó-Ni”, propriedade da Secção Desportiva. A sua feitura estava a cargo de três bombeiros, respectivamente,Paulo Barbosa, Gabriel Valentim e Fernando Amaral. O seu primeiro número sai como jornal de parede, tipo jornal escolar, em cartolina, com os artigos colados. Os números seguintes são feitos em formato A4, com os artigos dactilografados em duas folhas e posteriormente fotocopiados para distribuição pelos associados da Secção Desportiva. Ao jornal “Ti-Nó-Ni” nos reportaremos mais em pormenor num próximo artigo.
A Secção Desportiva financeiramente vivia à base da quotização dos seus associados. Para se ter uma ideia das verbas com que se lidava na altura, recordamos aqui que em Maio de 1982, em assembleia de sócios da Secção Desportiva realizada na Sala de Convívio do Bombeiro, foram aprovadas as contas referentes ao ano de 1981, tendo o saldo de cinco mil e trinta e nove escudos e cinquenta centavos transitado para a gerência de 1982. Na moeda actual, seriam pouco mais de 25 euros.
Entretanto, e mercê de alguma dificuldade em conciliar a utilização do ginásio em salão de festas para os bailes no fim-de-semana e ginásio propriamente dito durante a semana, a despeito dos esforços de limpeza e conservação, os bailes passaram para o parque de viaturas, mas com o passar dos tempos os mesmos deixaram de se efectuar. Dada a inactividade prolongada da Comissão de Festas, a qual levaria mais tarde à sua extinção, a Secção Desportiva pediu e viu ser-lhe concedida autorização para efectuar a “cerimónia cómica” do enterro do Entrudo de 1982, com vista a angariar algum dinheiro em peditório. Do mesmo modo lhe foi concedida autorização, nesse mesmo ano, para a exploração das “sardinhas” na feira de Maio, contando com a preciosa ajuda dos utensílios e de vários elementos da ex-Comissão de Festas. Estava dado o primeiro passo para a melhoria financeira.
É neste período que a Secção Desportiva inicia um conjunto de iniciativas em prol dos seus associados :

    a Sala de Convívio do Bombeiro passa para a responsabilidade da Secção Desportiva, fazendo-se beneficiações com pinturas, aquisição de novo mobiliário, revestimento de paredes com alcatifa e exposição de galhardetes;
    é criada uma exposição permanente de miniaturas de viaturas dos bombeiros, cedidas pelos sócios da Secção Desportiva e que faziam as delícias da pequenada das escolas quando acompanhados pelos professores visitavam o quartel;
    a biblioteca fica integrada na Secção Desportiva.
 
Na Sala de Convívio do Bombeiro, mercê da oferta de um pequeno frigorífico, cria-se um bar self-service com refrigerantes e cerveja, com a particularidade de cada bombeiro, depois de se servir, fazer o pagamento e respectivo troco depositando o dinheiro numa caixa existente para tal fim. Seria uma prova de confiança entre todos. Quem não tivesse dinheiro, poderia deixar um vale ! Infelizmente o tal sistema de bar self-service teve de ser abandonado derivado a procedimentos menos correctos de alguns utilizadores.
A Secção Desportiva, independentemente das suas contas anuais, publicava mensalmente um balancete sobre as despesas e as receitas. É também nesta altura que é construído um fogão de sala (lareira). A propósito desta lareira, realçam-se aqui dois factos: o primeiro, é que há muito que se pensava na forma de combater o frio especialmente nas noites de inverno, mas o receio de uma má desenfumagem criava reticências à lareira. Arranjou-se um especialista na arte – o senhor Luís Antunes, tio do Chefe Manuel P. Antunes – que para além de ter feito um excelente trabalho, não cobrou nada pela mão-de-obra. O segundo facto é que tendo-se arranjado um enorme tronco de árvore de onde se iria fazer o tampo superior da lareira, não havia na localidade serração com tamanho poder de corte. Conseguiu-se uma em Lisboa, mas a Associação não possuía qualquer viatura que pudesse transportar o tronco. Pediu-se então à firma “Rigorosa – Cunhos e Cortantes”, na altura com instalações na Agualva, se fariam o favor de numa carrinha sua, transportarem o tronco para Lisboa, comprometendo-se a Secção Desportiva a suportar os custos do combustível. De imediato, um dos seus proprietários passou as chaves da carrinha para as mãos de um elemento da Secção Desportiva, sem o conhecer, apenas sabendo que era bombeiro, disponibilizando assim a viatura. No final do transporte, quando foram entregar a viatura e se preparavam para pagar o combustível gasto, o referido proprietário da “Rigorosa” recusou receber qualquer importância. A disponibilidade demonstrada e a confiança depositada nos Bombeiros de Agualva-Cacém merecem aqui este destaque.        
Também uma alusão a um cidadão na altura ligado à Junta de Freguesia de Agualva-Cacém, – o senhor Ribeirinho – que apesar de não pertencer aos bombeiros, executou a título completamente gracioso, uma bonita pintura mural com motivos alusivos aos bombeiros, numa das paredes da sala de convívio.
Adquire-se uma mesa de ténis, permitindo assim a organização de torneios internos. Através do desporto fomenta-se o convívio inter-bombeiros. Agualva-Cacém participa no torneio de ténis de mesa organizado pelos Bombeiros de Mafra e posteriormente organiza o seu 1º torneio de ténis de mesa inter-associações, tendo-se classificado em 2º lugar. Participa também no rally-paper dos Bombeiros de Caneças.
A geminação com os Bombeiros de Portimão nasce graças ao convívio feito através do futebol de 11. E no futebol de salão, quem não se lembra do brilharete da participação da equipa de Agualva-Cacém orientada pelo saudoso Chefe Armando no grande torneio dos Bombeiros de Vila Franca de Xira em 1986, que movimentou dezenas de corporações de bombeiros, tendo Agualva-Cacém obtido um honroso 2º lugar ao perder na final com a congénere de Tomar? Muitos outros torneios de várias modalidades se seguiram. Os anos vão passando e a participação da Secção Desportiva vai sempre aumentando. Consoante a motivação dos seus associados, assim se iam criando novas modalidades. É assim que surge a pesca desportiva, com licenças desportivas emitidas pela respectiva Federação. De igual modo, a criação da equipa de cicloturismo foi uma realidade. Entretanto no ano de 1994 é aprovado um novo regulamento interno da Secção Desportiva, passando a sua direcção a ser composta por 5 elementos, tendo um conselho fiscal composto por 3 elementos, sendo um eleito em assembleia geral e os dois restantes indicados pelo Comando e Direcção.
Independentemente da parte desportiva, a parte social sempre mereceu a atenção da Secção Desportiva. Destacam-se aqui as Festas do Natal do Filho do Bombeiro que com a colaboração das Direcções da Associação se estenderam também a todos os filhos dos funcionários. As idas ao circo sempre fizeram furor entre os mais pequenos, seguindo-se o lanche no quartel e a distribuição das prendas. Também a comemoração do dia mundial da criança merecia particular atenção, com idas ao oceanário, jardim zoológico, etc. Ainda no campo financeiro, embora as verbas da Secção Desportiva por princípio fossem gastas em acções relacionadas com a essência desportiva ou cultural, numa determinada altura e face à manifesta dificuldade de aquisição de material de espeleologia por parte da Direcção, a Secção Desportiva acedeu ao pedido feito pelo responsável da secção de espeleologia, suportando assim os custos do material adquirido. De igual modo, mais tarde, na inauguração do talhão dos bombeiros no cemitério de Agualva-Cacém, a Secção Desportiva mostrou vontade de suportar as despesas, pedindo em troca, a colocação de uma lápide sua, de agradecimento a quem já tinha falecido. A Direcção da Associação analisando a proposta, entendeu por bem prescindir dessa ajuda de custos, por motivos perfeitamente justificáveis, arcando assim com os custos na sua totalidade. Contudo, outras situações houve, em que a Secção Desportiva pôde contribuir financeiramente para a minimização de custos de aquisição de equipamentos para o corpo de bombeiros a suportar pela Direcção.  
A nível de provas internas e procurando ir ao encontro dos gostos dos associados, foram surgindo os torneios de ténis de mesa, passando pelos de xadrez, damas, sueca e até o chinquilho. Ao longo destes anos até aos dias de hoje, houve actividades que se perderam pelos mais variados motivos, incluindo o desinteresse dos seus praticantes, mas em contrapartida, outras novas surgiram. As vitrinas da Sala de Convívio do Bombeiro estão repletas de troféus desde os primeiros tempos até aos dias de hoje, prova evidente de que os anos passam mas a vontade de não deixar morrer a Secção Desportiva está bem presente.
Longe vão os tempos da Secção a funcionar num pequeno vão de escada de acesso ao primeiro andar, onde se manteve vários anos. Passaram depois para um dos anexos construídos no parque traseiro do quartel, ao lado do armazém dos óleos e em frente à antiga rampa para viaturas. Ali se manteve vários anos, até à demolição para o início das obras de remodelação do quartel. Na fase do projecto de remodelação, em consonância com o Comando e a Direcção, a Secção Desportiva teve oportunidade de opinar sobre a localização da Sala de Convívio do Bombeiro, tendo suportado os custos do seu apetrechamento. Hoje, tal como a conhecemos, esta sala para além do bem-estar que o seu equipamento proporciona, deverá ser também o lugar ideal para fazer jus ao seu nome: Sala de Convívio do Bombeiro.
A Secção Desportiva tem um papel muito importante junto dos bombeiros. A própria Direcção da Associação assim o reconhece, ao conceder-lhe em 1999 o Diploma de Associado de Mérito. Se é verdade que “nem só de pão vive o homem”, também é verdade que “nem só de fogos vive o bombeiro”. A cultura, o lazer, o desporto e a camaradagem onde melhor se poderão cultivar, senão na Secção Desportiva desta Associação?
 
Por Fernando Amaral